8 perguntas sobre a implantação emergencial de home office

Wolnei Tadeu Ferreira, integrante do CORHALE, responde às principais dúvidas

Nestes dias atípicos e de grande preocupação com a disseminação do coronavírus, o home office é a saída para tirar das ruas, transporte público e empresas boa parte dos trabalhadores que podem exercer suas atividades em casa. Implantar um programa de home office, assim às pressas, porém, exige conhecimento sobre o processo e uma série de cuidados. Na entrevista a seguir, Wolnei Tadeu Ferreira, integrante do CORHALE, braço legislativo da ABRH em todo o Brasil, e diretor executivo da Sobratt – Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades, responde a 8 perguntas sobre o tema. Confira:

 

1) Ainda há certa confusão sobre o conceito de home office. Você poderia explicar?

WTF – É importante deixar claro que o home office ou teletrabalho só se destina a colaboradores que executem suas atividades de forma intelectual, a distância, através dos sistemas de informação e comunicação. O que disciplina a atividade é o artigo 75-B da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, acrescentado após a chamada Reforma Trabalhista, Lei 13.467/2017, e que considera o teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação, que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo.

2) Quais cuidados as empresas que não adotavam o home office precisam ter nessa fase de implantação?

WTF – A empresa deve firmar com o colaborador um contrato, de caráter emergencial, em que são estabelecidas as regras de controle de jornada, horas extras, prevenção e comunicação de acidentes, entre outros tópicos. É um processo que deve envolver as áreas de RH, Jurídica e TI, além dos gestores e colaboradores. Nas empresas menores em que não há essas áreas estruturadas, o contrato deve ser firmado diretamente entre o proprietário e o colaborador. Para tirar dúvidas sobre home office, a Sobratt publicou o documento Orientações para Implantação Emergencial do Home Office nas Empresas, no qual estabelece as responsabilidades das áreas envolvidas para que cada empresa desenvolva o processo de acordo com as suas características e grau de conhecimento do assunto. Vale conferir aqui.

3) Como as empresas devem acordar o ponto?

 WTF – Podem ser adotadas formas alternativas como login e logout no sistema, quando possível, ou controle manual feito pelos próprios colaboradores. É importante orientar os gestores de que ninguém está disponível em tempo integral. A jornada de trabalho deve ser observada para evitar horas extras. Assim como o colaborador, mesmo em casa, deve estar à disposição da empresa no período da jornada.

4) Como fica a concessão de benefícios, como vale-transporte e vale-alimentação?

WTF – Como no período não haverá deslocamento residência-empresa e vice-versa, a empresa não precisa manter o vale-transporte. No caso do vale-alimentação, se isso for uma obrigação prevista em norma sindical, não poderá ser subtraído ou reduzido, salvo se houver previsão na própria norma nesse sentido. Do contrário, deve ser mantido. Caso o benefício seja concedido espontaneamente pela empresa, sua eliminação ou redução fica a cargo de cada uma.

5) Que medidas devem ser adotadas para evitar o vazamento de dados e documentos?

WTF – A área de TI deve definir a infraestrutura necessária – equipamentos e programas – para a execução das atividades em home office e orientar o colaborador em relação às questões de segurança da informação, como segurança da rede Wi-Fi e pacotes de antivírus, por exemplo. Cuidados ainda maiores com essa questão devem ser tomados se, nesse momento emergencial, o colaborador utilizar o próprio equipamento.

6) Quem nunca trabalhou na modalidade pode enfrentar dificuldades de adaptação? Que orientações podem ser dadas para os profissionais?

WTF – A palavra-chave do home office é disciplina. Disciplina para cumprir a jornada de trabalho à risca, para fazer os intervalos necessários, se levantar da cadeira de vez em quando, fazer alongamentos. Outra boa orientação é a pessoa não trabalhar de pijama ou deitada no sofá, por exemplo. Ela deve acordar, se vestir como se fosse sair de casa, inclusive porque provavelmente terá reuniões por videoconferência, e precisa estar pronta para isso. O profissional deve entender que não estará em férias no período.

 7) Também é preciso estar atento às questões de ergonomia.

WTF – Sim. O colaborador deve seguir em casa as mesmas orientações que valem na empresa para evitar problemas de saúde no futuro. De modo geral, escolher um local com mínimas condições para o trabalho, boa iluminação natural ou artificial, evitando que a luz reflita diretamente na tela, e usar mesa e cadeira adequadas. Ele também deve prestar atenção na postura e fazer alongamentos como recomendado.

8) Outro desafio é a adaptação da família, principalmente das crianças. O que fazer?

WTF – A saída é estabelecer um “acordo familiar” para que não haja interferência por parte dos habitantes da residência nas atividades do colaborador. É preciso explicar o momento atual, os motivos dessa mudança na rotina e pedir o apoio de todos, inclusive das crianças.

 

Foto: Wolnei Tadeu Ferreira

Crédito da foto: Paulo Uras Neto Fotografia