Os impactos da pandemia na vida de estagiários e aprendizes

CIEE recebeu apenas 5 mil novas vagas de estágio em abril deste ano

Como tem acontecido com todos, a pandemia da Covid-19 também impactou a vida de estagiários e aprendizes. A começar pela menor oferta de vagas. Em abril de 2018, o CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola recebeu quase 32 mil vagas de estágio. Em abril de 2019, foram 33 mil vagas. Já, no mesmo mês deste ano, apenas 5 mil. O impacto é grande, pois muitas vezes esses jovens, notadamente os aprendizes, que têm um perfil de maior vulnerabilidade, contribuem com a parcela do salário para o orçamento da casa ou tem no seu salário a única fonte de renda oficial da família.

Os estagiários e aprendizes já contratados também tiveram de se adequar à nova realidade do mercado de trabalho. “As empresas tomaram decisões de curtíssimo prazo assim que foi declarada a necessidade de ficar em casa. Colocaram os jovens em home office e conseguiram antecipar o recesso dos estagiários e as férias dos aprendizes. Com a edição da Medida Provisória 936, que permitiu a flexibilização das relações de trabalho, também passaram a fazer a redução de jornada e a suspensão do contrato de trabalho sem perda do vínculo”, avalia Luiz Gustavo Coppola, superintendente Nacional de Atendimento do CIEE.

Instituição financeira conhecida por apostar muito no jovem, o Banco Santander também agiu rápido com os seus 700 estagiários e 550 aprendizes. “Adiantamos férias e recesso”, conta Vanessa Lobato, vice-presidente de Recursos Humanos do Santander Brasil. Conforme o vencimento dos prazos, o RH, segundo ela, vai começar a trabalhar o retorno dos jovens. “A gente tem um serviço essencial que não parou durante a quarentena. Nossas agências estão abertas porque, por mais que tenhamos muita digitalização, as pessoas precisam receber seus vencimentos. Então, vários funcionários não pararam durante a crise, nem estão em home office. Temos reforçado os procedimentos do Ministério da Saúde e trabalhado em rodízio. Depois das férias e do recesso, o estagiário vai se enquadrar nesse sistema.”

Para ela, o mais importante é entender a realidade do estagiário. “Nesse rodízio nosso, nos deparamos com estagiários que têm familiares no grupo de maior risco. Como lidar com isso? Há a lei, a realidade da empresa, a realidade da área e do indivíduo. Nem sempre é possível conciliar todas as vertentes, mas quando a gente pode olhar para esses quatro pilares funciona tudo bem.”

Apesar de tudo, o programa de estágio do Santander continua. Conforme explica Vanessa, a contratação de 150 estagiários será feita em junho. Para manter o interesse dos candidatos, o banco faz o processo em duas etapas. “Cerca de um ano atrás, remodelamos o programa. Agora trabalhamos com clusters, que são verticais de conhecimento em diferentes áreas, como marketing, analytics, riscos, porque a gente acredita que é importante o estagiário ter uma especialização. Essa mudança trouxe qualidade na contratação e efetivação, que, no nosso caso, chega a 60% no primeiro momento quando termina o estágio.”

Proatividade

Além de orientar as 36 mil empresas e órgãos de administração pública que contratam estagiários e aprendizes com a entidade, o CIEE tem sido bastante proativo em diferentes frentes. Uma das novas iniciativas é o Programa Amigos do Ensino Médio, que tem como objetivo, com o mercado voltando aos poucos, estimular o empresariado local a contratar o seu estudante do bairro para dar uma oportunidade para o jovem e fortalecer a economia local. Também desenvolveu um sistema de capacitação híbrido para os aprendizes, que podem ser contratados agora e ficar em casa durante os primeiros 60 dias, para receber capacitação através da plataforma EAD do próprio CIEE, e depois atuar por 90 dias consecutivos na empresa.

Outra iniciativa foi levar ao governo federal uma proposta de política de incentivo à contratação de aprendizes. “Nesse orçamento de guerra [para combater os impactos da pandemia], o governo vai gastar R$ 1,2 trilhão. Nossa proposta é destinar meio por cento desse valor para a contratação de 200 mil aprendizes por 24 meses, com o governo fazendo o pagamento do salário deles para movimentar a economia e ajudar a pequena e a média empresa”, explica Coppola, que acredita que a proposta pode evoluir para 400 mil se a empresa assumir 50% do custo do salário do aprendiz.

 

Luiz Gustavo Coppola, superintendente Nacional de Atendimento do CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola, e Vanessa Lobato, vice-presidente de Recursos Humanos do Santander Brasil, participaram do webinar Estagiários e Aprendizes – O que mudou com a pandemia? Aspectos práticos e legais, que foi realizado pela ABRH-SP em 7 de maio, com a moderação de Edna Bedani, diretora de Conhecimento e Aprendizado da ABRH-SP. Assista a este e outros webinars no canal da ABRH-SP no YouTube.

Imagem: PxHere