O que eu tenho a ver com essa tal de transformação digital?

Ninguém dúvida de que estamos vivendo uma transformação digital, melhor dizendo uma verdadeira Revolução Digital, que afeta as pessoas todos os dias, de todas as maneiras. Essa revolução é bem diferente das que ocorreram anteriormente, basicamente porque é muito mais veloz e mais ampla, com impactos gigantescos em todos os setores.

Essa revolução também tem possibilitado às empresas construírem modelos diferentes de negócios, com performance superior aos modelos anteriores, que oferecem experiências diferentes para os clientes e consumidores e, portanto, são muito mais sustentáveis e perenes. Outra característica importante desses modelos é que eles possibilitam uma inclusão muito grande. Quem já está experimentando trabalhar no modelo ágil, por exemplo, está adorando.

Inclusão é a palavra do momento. Todos os processos de revisão de modelos organizacionais e de desenvolvimento de produtos têm chamado o cliente, o consumidor, para fazer parte da mudança. Com isso, cada um de nós pode dar retorno e receber feedback o tempo todo em relação a um novo produto ou processo que está sendo desenvolvido e oferecido no mercado.

Se a gente parar para pensar, vai perceber o quanto está mais empoderado. É outra palavra da moda, mas que reflete perfeitamente o momento que estamos vivendo. É um poder extraordinário nas mãos. Como cidadãos, também estamos cada vez mais empoderados. A maneira como temos nos relacionado com os órgãos públicos e com o governo é bastante diferente do que era no passado. Hoje acionamos os serviços públicos através de aplicativos e resolvemos boa parte das nossas necessidades dessa forma.

Do mesmo modo, nunca estivemos colocados de uma maneira tão central nos problemas e nas soluções que precisam ser encaminhadas. É sempre importante lembrar que a tecnologia está a nosso serviço. E não pode ser o contrário. O próprio Manifesto Ágil, de 2001, declaração de princípios que fundamentam o desenvolvimento ágil de softwares, estabeleceu como primeiro princípio “os indivíduos e interações acima de processos e ferramentas”. O manifesto segue com outras referências que reforçam esse conceito do indivíduo como fonte central.

Como eu disse anteriormente, acredito que esse novo modelo de organização e de trabalho sejam perenes. Não é um modismo como no passado em que havia ciclos que se fechavam. É perene porque traz ganhos de produtividade expressivos, porque conseguimos fazer entregas com o mesmo número de pessoas, mas num espaço de tempo muito mais curto e com uma qualidade muito melhor. Isso é ganho de produtividade sem a necessidade de corte de pessoas.

A revolução também tem afetado drasticamente a área de Recursos Humanos e uma pergunta que me fazem frequentemente é se essa tecnologia toda que está sendo colocada disponível, e que o RH tem se apropriado, vai fazer com que a área fique menos humana? Acho o oposto. Vejo a área em um processo evolutivo.

Há mais ou menos 20 anos, o RH desenvolvia produtos e serviços e os oferecia de maneira massificada. Evoluímos um pouco mais e conseguimos, a partir de processos de feedback e de avaliação de desempenho, estruturar programas específicos para uma determinada categoria de líderes. Já foi um passo na direção da customização dos nossos programas de desenvolvimento.

Com a tecnologia e a boa utilização dos dados, o RH pode fazer entregas individualizadas e personalizadas. Graças a esse avanço, hoje conseguimos desenhar programas de desenvolvimento, assim como oferecer benefícios específicos, para atender a uma pessoa ou necessidade. Essa é a melhor resposta de como conseguimos utilizar a tecnologia como aliada da área de RH e de como conseguimos torná-la humana.

Como a gente se prepara para esse futuro?

Dá para perceber que as pessoas estão cada vez mais conscientes das dificuldades e dos gaps que esse mundo nos coloca. Por isso, e por estarmos mais empoderados, temos uma capacidade de mobilização muito grande. Temos visto várias manifestações ao longo dos últimos anos em que as pessoas conseguem de fato colocar as suas vontades, mover e modificar a sociedade.

Temos de usar essa capacidade de mobilização para as questões relacionadas às desigualdades sociais e ao desemprego. Não podemos ficar indiferentes aos 13 milhões de brasileiros desempregados. Se não bem implementada, a Revolução Digital pode agravar de maneira ainda mais dramática essa situação. O problema é bastante complexo e exige união de todos. Precisamos atuar em conjunto para preparar a nossa sociedade e, principalmente, os trabalhadores para a Revolução Digital a fim de que as injustiças sociais não sejam ainda maiores. Não tenho dúvida de que a única saída é atuarmos de maneira colaborativa. Iniciativa privada, pública, academia e ONGs buscando soluções necessárias para os desafios presentes e os que ainda virão.

 

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Guilherme Cavalieri

Guilherme Cavalieri

É presidente da ABRH-SP (Seccional São Paulo da Associação Brasileira de Recursos Humanos).