Quando a tecnologia afeta o emprego

Diferentemente do que alguns pregam, não acredito que o desemprego decorrente da adoção de novas tecnologias pelas empresas possa, de alguma forma, incentivar um aumento de ações na Justiça do Trabalho. Uma ação despropositada dessa não teria respaldo, seria retrógrado e, por consequência, revisar a legislação trabalhista sobre esse aspecto não faria sentido.

Acredito muito que as negociações sempre podem evoluir, melhorar, pois particularidades podem sempre ser revistas e flexibilizadas, mas na minha opinião, nunca do ponto de vista legal ou moral!

Qualquer discussão ou aprimoramento da modernização trabalhista, da utilização de novas modalidades de trabalho ou dos mais modernos recursos tecnológicos, devem, sempre, estar pautados pela ética, caso contrário, nossos valores e aspirações de uma vida mais digna deixarão de existir. Portanto, esse debate precisa acontecer em outro patamar.

Li um artigo de Sarah K. White, senior writer da CIO Online (EUA), que me fez pensar e concordar com ela de que uma coisa é certa: haverá uma ruptura nos próximos anos na relação trabalho-emprego, conforme a Inteligência Artificial (IA) e a automação instalarem-se em nossas empresas.

Erik Brynjolfsson, diretor da Iniciativa sobre a Economia Digital do MIT e professor do MIT Sloan School of Management, diz: “…mas, se entendermos melhor esses efeitos e trabalharmos para reinventar nossos processos de negócios, poderemos aproveitar essas tecnologias para criar muita riqueza e muitos benefícios para muitas pessoas diferentes. ”

Portanto, podemos considerar que a tecnologia não acaba com empregos, mas exige que efetuemos nossa “lição de casa”, ou seja, façamos como o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos que criou um conjunto de dados chamado ONET, no qual inclui descrições de 964 ocupações no país.

Em cada trabalho, eles elaboraram uma lista que inclui cerca de 20 a 32 tarefas, com um total de mais de 18 mil existentes! Com isso, procuraram identificar quem possuía o melhor desempenho: a inteligência artificial ou o homem?

A IA mostrou-se melhor na maioria dos casos, mas em muitas das tarefas os humanos se destacaram.

Não temos notícia desse estudo ou preocupação em efetuá-lo aqui no Brasil.

Acredito que nossas áreas de Tecnologia e RH precisarão coordenar conjuntamente treinamentos com conteúdos em que a IA e os humanos aprendam a trabalhar juntos e os robôs auxiliem a aliviar tarefas demoradas, trabalhosas, tediosas ou mesmo fisicamente extenuantes sem que isso implique a perda de empregos. Um bom exemplo são os robôs já utilizados em cirurgias e exames laboratoriais na área da saúde.

Ainda, de acordo com Elisabeth Reynolds, diretora executiva do Grupo de Trabalho do Futuro do MIT, existe o argumento de que os “co-bots”, nome dado às máquinas de IA, estão criando mais oportunidades para os colaboradores, que agora estão livres para trabalhar em tarefas mais complexas, ou seja, aumentar suas qualificações individuais.

O futuro dos robôs e da IA em nossas empresas não está isento de riscos, pois assim como em outras situações, as organizações precisarão gerenciar riscos, problemas e/ou obstáculos. Cabe a essas mesmas organizações, mais a sociedade e o poder público, aprimorarem negociações de melhores projetos!

 

Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem a posição do CORHALE.

Inês Restier

Inês Restier

Matemática e Administradora de Empresas, com MBA em Políticas Estratégicas Empresariais, atua como consultora em Treinamento e Desenvolvimento e conferencista internacional. É diretora da MICR – Consultoria e Treinamento Empresarial, conselheira da ABRH-SP e coautora dos livros Ser+com T&D, Ser+em Comunicação e do Manual das Múltiplas Inteligências