A transição de ciclos

No artigo anterior, falamos de um fim de um ciclo, que foi de 15 de março de 1985 (governo Sarney) até 31 de dezembro de 2018 (governo Temer) e do início de um novo ciclo, que começou com a posse do governo Bolsonaro.

No ciclo passado, fizemos uma sucessão de governos que adotaram praticamente o mesmo sistema com mudanças apenas no enfoque de alguns temas, o que significa que, no decorrer do período, tivemos sempre mais do mesmo.

Neste ano, estamos vivendo não apenas o início de mais um governo, mas, sim, o começo de um novo ciclo, que envolve grandes mudanças nos paradigmas de governo, significando uma ruptura com os sistemas anteriores.

O que estamos vivendo nestes primeiros meses do ano é uma transição de ciclos. A implantação dos novos paradigmas, politicamente falando, não é uma tarefa fácil, pois demanda, além de acertar no novo paradigma, fazê-lo na oportunidade certa e sempre considerando as necessidades do país.

É normal ter alguma turbulência nos avanços e recuos na busca dessa sintonia fina para implantar mudanças de paradigmas necessárias ao país. Os agentes dessa mudança são: o presidente Bolsonaro, o governo Bolsonaro, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e o Poder Judiciário. A mídia se dedica muito mais ao presidente Bolsonaro do que aos demais agentes envolvidos, que são tão importantes quanto ele.

Para buscar entender qual é a situação do país neste novo contexto, temos que recorrer a indicadores econômicos. Os economistas apresentam mais de duas dezenas de índices para mostrar esse quadro. Como não somos economistas, e para efeito deste artigo, vamos nos permitir selecionar uma amostra de seis índices: inflação; PIB; balança comercial; reservas cambiais; endividamento público; e índice de desemprego.

  • A inflação no ano passado foi de 3,75%, a projeção para este ano é de 4,20%, o que deve ficar abaixo da meta, que é de 4,50%. Este, portanto, é um índice positivo.
  • O PIB no ano passado foi de 1,1% e este ano deve chegar a 2%. Se considerarmos a recessão que vínhamos acumulando dos governos anteriores, que chegou a -7%, podemos também considerar que este é um índice positivo.
  • As reservas cambiais estavam no fim do ano passado em 376 bilhões de dólares. Para este ano devem manter-se no mesmo patamar, deixando o Brasil numa posição confortável quanto a eventuais ataques especulativos, sendo também um índice positivo.
  • A balança comercial teve no ano passado um saldo de 78 bilhões de dólares. Neste ano deverá manter-se no mesmo patamar e, também com este índice, o resultado é positivo.

Deixamos para o final a análise dos demais índices.

  • O endividamento público, no final de 2018, estava em R$ 3,8 trilhões, representando 77,3% do PIB. Se nada for feito, ao final deste ano, estará em R$ 4,3 trilhões, representando 80,6% do PIB.

Assim esse índice, além de negativo, é explosivo. O principal componente dos gastos públicos, como sabemos, são os gastos com o sistema atual da Previdência Social, na casa dos R$ 720 bilhões ao ano, daí a necessidade urgente da Reforma da Previdência.

Esse índice é tão desastroso que traz no seu bojo sua solução. Não conseguimos imaginar a não aprovação da reforma, o que é uma responsabilidade do Poder Legislativo, não da articulação política do Poder Executivo, como diz a mídia.

Estamos convictos da aprovação da reforma pelo novo congresso baseado em três razões insuperáveis:

1-  Se a Reforma da Previdência não for aprovada, os gastos públicos irão explodir no próximo ano.

2-  Não é mais admissível continuarmos a bancar o volume de privilégios conferidos aos servidores públicos pelo atual sistema previdenciário.

3-  O Brasil precisa urgentemente de investimentos produtivos para atenuar o altíssimo índice de desemprego, que não virão sem a Reforma da Previdência.

São essas razões que nos levam a acreditar que, apesar de o índice de endividamento público ser desastroso, não é o maior problema que o Brasil enfrentará este ano, pois a reforma será aprovada

  • Finalmente chegamos ao índice de desemprego, que está em 12,7% da PEA, representando 13,1 milhões de desempregados, sem perspectiva de solução neste ano.

Este é o verdadeiro grande problema que merecerá uma análise específica oportunamente num próximo artigo.

 

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Luiz Luzzi

Luiz Luzzi

Coordenador do CRI – Comitê de Recursos Humanos e integrante do CORHALE.