O estranho mundo sindical

Informa-nos a Ágere, que assessora a ABRH-SP e o CORHALE junto ao Congresso Nacional, que a bancada sindicalista na próxima legislatura cairá de 83 para 46 representantes. Confesso que li com certo alívio a informação, pois trabalhamos muito na última legislatura – 2010 a 2014 – para providenciar fundamentos e exposições objetivando a derrubada de alguns PLs – Projetos de Lei patrocinados em sua grande maioria pela bancada sindicalista.

O objetivo? Buscar tirar da pauta do Congresso uma enormidade de projetos que visavam a apenas consolidar em lei condições/benesses contempladas em Convenções Coletivas de Trabalho pelo Brasil afora. Nada contra a existência de condições melhores ou mais favoráveis aos trabalhadores, evidente.

Mas o que, a nosso ver, precisa ficar claro ao Congresso e aos sindicalistas é que toda benesse ou vantagem dada no “atacado” acaba por comprometer o “varejo”, ou seja, aquilo que pode ser suportado por uma grande empresa vindo através da lei, na maioria absoluta das vezes não pode ser sustentado no varejo, pelo pequeno empresário. A capacidade de pagar deste é diferente em razão das margens de lucratividade, de repasse do ônus no preço de seu produto, etc. Assim, vindo via legislativa, mata o pequeno, ou joga-o na condição de informal ou ilegal por não poder acompanhar a lei.

Sabem disso os sindicalistas? Claro, não são bobos. Apenas fingem sê-lo. Assim como fingem agora desconhecer a monumental roubalheira na Petrobras! Sim, só pode ser isso, pois até agora nenhuma central sindical saiu em protesto pelas ruas do país. Nenhum senhor sindicalista saiu em defesa dos trabalhadores petroleiros para “lutar contra esses capitalistas desumanos ajudados pelos lacaios que administram a empresa!”

Bons tempos aqueles do discurso fácil e irresponsável, mas é preciso sentir na carne as dores do parto, talvez daí a queda da bancada sindicalista no Congresso. Parece, mas apenas parece, que uma parte maior da população explorada pelo discurso sindicalista começa a perceber a diferença entre discurso e prática. Aliás, como no caso dos empregados da IESA em Charqueada, no Rio Grande do Sul, onde 1.000 empregos diretos e mais 5.000 indiretos já foram perdidos por conta do Petrolão.

É muito estranho esse mundo sindical. Na hora da explicação e de assumir a responsabilidade todos tiram férias, que, por sorte, coincidem com os festejos natalinos.

 

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Mário Luiz Lopes Bittencourt

Mário Luiz Lopes Bittencourt

Sócio-diretor da BBCA – Barreto Bittencourt Consultores Associados desde 1999, tem assessorado empresas nas áreas de hunting, cargos e salários, negociação sindical data base, fechamento/ transferência de plantas industriais e PLR. Exerceu papel executivo em organizações como Iochpe-Maxion, Brastemp, Indústrias Monsanto, Arteb e Ford Brasil. É membro dos grupos informais de Recursos Humanos CEAP-RH e Grhubedi.